“Batam-me”: o bilhete colado nas costas que escancarou o bullying na escola

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13/08/2025 bullying digital, Combate ao bullying, Proteção Infantil

Filipe tinha 11 anos quando a escola deixou de ser um espaço de aprendizagem e se tornou um território de medo. O sinal do intervalo, que para muitos representa liberdade, era para ele o anúncio do próximo ataque. Um dia, colaram-lhe nas costas um papel com a frase “batam-me”. E obedeceram.

A cena, descrita na reportagem de Rémy Marques, publicada pelo Jornal de Notícias em 23 de junho de 2025, é mais do que um retrato isolado. É a síntese cruel do que muitos alunos vivem diariamente no Brasil e no mundo. Como especialista em bullying, afirmo: o bullying na escola não é apenas um comportamento inadequado — é uma violência estruturada, com impactos profundos e duradouros.

Relatos como o de Filipe, Carolina e Mariana escancaram os diferentes rostos da exclusão: o isolamento silencioso, o desprezo disfarçado de piada, a agressão direta ou velada. Em todos os casos, há uma dor que ultrapassa os muros da escola e atinge a saúde mental, a autoestima e a construção da identidade desses jovens.

Como advogada e especialista em direito digital, também preciso destacar outro ponto urgente: o bullying digital. Cada vez mais, as agressões migram para os grupos de WhatsApp e redes sociais, onde se espalham com velocidade e impunidade. A proteção de dados pessoais nas escolas não pode mais ser ignorada. Uma escola que não protege seus alunos, tampouco protege seus dados pessoais.

A escola precisa ser um território seguro, onde o diferente não seja punido, mas respeitado. Onde educadores saibam reconhecer os sinais do sofrimento. Onde os colegas não sejam cúmplices do riso maldoso, mas aliados da empatia.

É urgente investir em políticas de prevenção, em canais formais de denúncia e em programas contínuos de combate ao bullying escolar. Precisamos formar professores, envolver as famílias, acolher as vítimas e responsabilizar os agressores.

Porque, no fim das contas, a mensagem que deve estar colada nas costas de cada criança é outra: “Aqui, você está seguro.”


Fonte: Jornal de Notícias, 23/06/2025.

Disponível em: https://www.jn.pt/3578565/bullying-na-escola-colaram-me-um-papel-nas-costas-a-dizer-batam-me/